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- O tempo em adjetivos | Elyson Sales
Publicado por: Unknown
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
por Elyson Sales
O tempo é engraçado: quando crianças nele não pensamos. Apenas vivemos para brincar, dormir e comer. Ele é a última coisa que poderíamos pensar. Tempo é o que não nos falta! O tempo nos é aliado e, ledo erro, desejamos, ardentemente, que ele passe para que nos tornemos adultos, belos e libertos.
O tempo é injusto: quando adolescentes talvez ele seja o maior inimigo, o grande causador de todos os males. Não somos crianças e, tampouco, somos adultos. Acreditamos que não nos dão o devido crédito, a igual confiança daqueles que são maiores. Eu já sou grande, pô! E o pior, como uma ênfase, um combustível a nossa revolta, somos tratados como crianças pelos nossos próprios pais.
O tempo é bom: Quando adultos a vida mostra sua face e isso é um golpe duro. Preocupações, trabalho, estudo, responsabilidades, compromissos, violência, poluição, trânsito, estresse. Mesmo se somos belos, ricos e resolvidos não somos poupados das cobranças. Se feios, pobres e complexados a vida parece mais injusta do que realmente é, pois o seu esforço é, ou parece ser, maior que o do outro. É necessário muito equilíbrio para suportar tanta pressão, tantos adjetivos. Você precisa ser bom, inteligente, estudioso, trabalhador, desinibido, descolado, ético...! Não seja bobo, desonesto, grosso, desatento, insensível...! A cobrança da família, da sociedade, de si mesmo é uma constante. Apesar de tudo isso, temos prazer na vida, somos fortes e capazes de superar os desafios. O tempo é apenas mais um obstáculo. Por piores que sejam os transpassamos com nossa fé e vontade.
O tempo é algo real: Quando maduros, somos, geralmente, respeitados pelos mais jovens gratuita e simplesmente pela idade que temos. Apesar da experiência, de grandes amigos cultivados por muito tempo, da família numerosa, filhos encaminhados, do trabalho bem sucedido, da boa poupança, as rugas teimam em aparecer. Começamos a perceber a fragilidade do nosso corpo que, perceptivelmente, teima em mudar. Mudança essa, que tentamos combater com os mais diversos truques da tecnologia. Ambicionamos uma juventude que o tempo, como um ladrão, rouba de nós. Algo ao qual não estamos acostumados passa a acontecer: não mais somos chamados simplesmente pelos nossos nomes. Chamam-nos de Seu Fulano! Dona Maria! Minha tia! e Seu Zé!(esse é o pior). A impressão é que fomos destituídos de nossos nomes que é nossa marca, nossa identidade, nós mesmos.
O tempo é cruel: Quando na boa idade ou sexagenários temos muita experiência e, geralmente, pouca saúde. O corpo pede descanso. Não podemos mais correr, pular e pedalar. Apenas podemos andar e se dar por feliz de não termos uma bengala como companheira. Diferente do passado, que ganhávamos filhos, amigos e tantas outras coisas, nesse momento da vida, o tempo vai nos tirando tudo aquilo que nos foi dado. Os amigos, os parentes, todos se vão do teu convívio. Acredito que a solidão seja o que de mais perverso na vida. Não apenas pelos amigos que se foram, mas por um tempo, um mundo que não volta mais. Quando sexagenários percebemos que vivemos em um mundo bem diferente do que estávamos acostumados. As pessoas, as roupas, as músicas e palavras são diferentes. Não melhores ou piores, apenas diferentes. Quem dera ser jovem hoje! O que mais nos vem à mente são as lembranças acumuladas por anos. Se boas, são um presente para os dias tristes. Se ruins, são um martírio, sempre recorrente.
O tempo é cíclico: Quando realmente idosos, chegamos no tempo da conformação, pois não há mais tanto o que fazer além de refletir. Tornamo-nos prisioneiros de nosso próprio corpo. A mente pode estar a mil, sóbria e olhos atentos a tudo, mas o corpo é o limite. Percebemos, então, que o tempo, na realidade, não é cruel, tampouco injusto, mas apenas cumpre com disciplina o papel que a natureza lhe deu como dádiva: de tornar cíclica a vida. Não cabe ter medo da velhice, da morte, pois são inevitáveis. O máximo que podemos desejar é uma velhice tranquila e o mais saudável possível. Acredito que ninguém consegue ser verdadeiramente feliz se seu filho ou alguém que você ama vive triste. E para ter uma vida feliz na velhice é preciso que na juventude se eduque corretamente as crianças impondo-lhes limites. Também se deve aconselha-los bem na adolescência para que as ideias se mostrem mais claras para decisões mais acertadas na vida adulta. Assim, não se lamentarão na vida madura pelos erros ou se martirizarão na velhice, pois terão segurança que suas decisões foram as melhores. Percebe, que a nossa felicidade depende, inclusive, da felicidade do outro? E que a felicidade dele, também depende do que fizemos para tornar a sua vida, de alguma forma, mais feliz?. Realmente, a vida é, indubitavelmente, um ciclo!