Publicado por: Unknown terça-feira, 9 de abril de 2013


       Ainda me lembro, era uma segunda-feira...

     Havia muitas pessoas por todos os lados, até onde a vista alcançava. Elas se moviam sem rumo, atordoadas, em busca de seu destino. O calor era forte e tornava o ambiente ainda mais impróprio, a visão embaçava e perdia o foco dentre tantos rostos aflitos. A comunicação como a conhecemos, naquele momento deixava de existir, e dava lugar a urros, sussurros, gritos... um alarido ruidoso e tumultuado.
Os cheiros se confundiam em meio ao odor de borracha e aço quente, que se espalhavam e adentravam as narinas, fazendo lembrar que todos estavam ali por Ele.

      Neste caos onde chegamos não haviam espaços privilegiados nem divisões, todos compartilhavam da mesma angustia da espera. Negros, brancos, pardos, amarelos, mais abastados ou miseráveis, crentes ou incrédulos, todos só poderiam esperar n’Ele. Chegamos ao ponto de agir instintivamente, num nível de perder a racionalidade e nos comportar de forma semelhante a animais em bandos, manadas descontroladas de seres humanos. Proteger mulheres, crianças ou idosos era demostração de fraqueza.

     No topo da evolução, orgulhosos de nosso desenvolvimento, com a autoria de feitos fantásticos, não poderíamos pensar que todo esse progresso nos aprisionaria?! 

     Nos últimos instantes nem todos pareciam estar cientes do que aconteceria, mas até os mais distraídos podiam sentir que algo estava por vir. Ao chegar, Ele foi acometido por centenas de corpos que se projetavam ao seu encontro, e nos últimos lampejos de consciência destes humanos, pareciam restar apenas os impulsos de completar sua jornada até se juntar a Ele. Neste momento a imagem de corpos amontoados uns sobre os outros, numa forma disforme de um “beholder humano”, com dezenas de olhos e bocas perdidos numa massa repleta de membros em movimentos relutantes, esboçava alguns sorrisos, numa loucura que parecia fingir que tudo aquilo era normal...  

     ...eram seis da noite, e a composição do metrô chegava a plataforma da estação central do Recife.


Kristopher Kim

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